O Santuário do Bom Jesus do Monte, tal como o conhecemos hoje, é o resultado de múltiplas intervenções arquitetónicas, aliadas a um esforço significativo de atualização estética e catequética que, desde o final do século XV, têm reafirmado a vocação religiosa deste espaço. Na sua construção trabalharam vários artistas de Braga, principalmente durante o período barroco, uma vez que a feição cenográfica dos escadórios e o conceito de igreja de peregrinação se acentuou, essencialmente, nesta época. Da mesma forma, encontra-se-lhe indissociavelmente ligado o nome do arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles, que conferiu a todo este complexo uma unidade arquitetónica e iconográfica, celebrando, ao mesmo tempo, o seu próprio poder enquanto membro da igreja, ao colocar as suas armas no pórtico que dá início ao percurso. As obras do templo mantiveram-se, contudo, até ao século XIX, e muito embora seja a linguagem barroca a predominar em todo o espaço, são múltiplos os testemunhos do rococó e do neoclassicismo.

A primeira edificação religiosa erguida neste local por ordem do Arcebispo D. Jorge da Costa, remonta a 1494. Foi reconstruída, sucessivamente, em 1522 e 1629, datando desta última campanha as seis capelas da Paixão, as casas para os romeiros e a nomeação de um ermitão. Ou seja, se a ideia da Paixão de Cristo associada a um percurso através do monte (entendido como caminho de salvação), esteve presente desde o início, foi a partir da intervenção de 1629 que esta se tornou mais efectiva, culminando, no século XVIII, com o projecto de D. Rodrigo de Moura Teles e de D. Gaspar de Bragança. De facto, em 1722 todo o complexo foi reformulado, uniformizado e definido o percurso a partir do pórtico com as armas do arcebispo, surgindo então as oito novas capelas e as respectivas fontes com figurações mitológicas, que confrontavam a Verdade e a Fé cristãs com a falsidade emanada de outros cultos.

No Terreiro das Chagas encontra-se a fonte com emblemas da Paixão que tem vindo a ser atribuída a André Soares, e com o qual termina esta primeira parte do percurso. Seguem-se o Escadório dos Cinco Sentidos, em que cada fonte corresponde a um sentido, facilmente identificável, e o Escadório das Virtudes (com as representações da Fé, Esperança e Caridade), este último atribuído a Carlos Amarante, e executado já ao tempo do Arcebispo D. Gaspar de Bragança, responsável pela ampliação do santuário.

O paralelo com o Caminho do Calvário e a função catequética do Bom Jesus encontra-se bem expressa ao longo da trajectória ziguezagueante através da qual se chega à igreja, e onde todas as manifestações artísticas convergem num mesmo sentido, como refere José Fernandes Pereira: no escadório dos Cinco Sentidos a mensagem centra-se no carácter ilusório e pecaminoso do conhecimento sensível. Contudo, a água e as imagens sagradas funcionam como possibilidades de purificação, que culminam no Escadório das Virtudes, onde o romeiro contacta com as verdades teologais, encontrando-se, então, apto a entrar no ponto culminante de todo o percurso: a igreja, a casa de Deus, na qual só devem entrar os puros.

O templo situava-se, anteriormente, no final do Escadório dos Cinco Sentidos, e a sua traça é atribuída a Manuel Pinto Vilalobos (c. 1725). Foi destruído para dar lugar ao actual, edificado por Carlos Amarante, numa linguagem que denota a abertura ao neoclassicismo, e a depuração decorativa daí decorrente, numa composição onde se destaca o corpo central, coroado por frontão triangular, e ladeado por duas torres. Contudo, e apesar da citação clássica, Amarante denota a influência da arquitetura bracarense de André Soares, bem presente na eficaz animação da fachada. O interior é bastante sóbrio, com quatro capelas laterais, destacando-se no altar principal o Calvário da autoria do escultor de Braga José Monteiro da Rocha, e as telas de Pedro Alexandrino.